Confira no ABLV-Entrevista deste mês um bate-papo exclusivo entre o Dr. Gustavo Korn, 1º Tesoureiro da ABLV, e o Dr. Ferran Ferran Vilà, convidado internacional da grade científica de Laringologia durante o 42º Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial!
DR. FERRAN FERRAN VILÀ (ESPANHA)
DRS. PAULO PERAZZO, FERRAN FERRAN VILÀ E GUSTAVO KORN
Dr. Gustavo Korn: Qual foi o balanço, em sua opinião, do 42º Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, quanto ao nível científico?
Dr. Ferran Ferran Vilà: Como já havia comentado com vários colegas, me surpreendi com o nível e com a quantidade de participantes do congresso. É um evento grandioso! O que também me chamou bastante a atenção foi a grande quantidade de colegas internacionais que participaram.
Dr. Gustavo Korn: Poderia fazer um panorama geral sobre os temas trazidos para discussão em nosso país?
Dr. Ferran Ferran Vilà: Eu já conhecia o trabalho dos fonocirurgiões brasileiros, porque muitos deles participam de associações internacionais na área. Em virtude disto, já sabia que aqui se operava muito bem, e, portanto, eu não precisaria trazer muito material sobre técnica cirúrgica. O que muda, às vezes, é a maneira de operar. Creio que eu tenha trazido uma forma mais funcional da cirurgia, envolvendo o paciente de um ponto de vista mais global, e um pouco menos centrada nas lesões.
Dr. Gustavo Korn: Com relação às cirurgias em cantores, você dá preferência a instrumentos frios ou ao uso do laser?
Dr. Ferran Ferran Vilà: Só uso instrumentos frios. Nos anos 80 e 90 houve muita discussão sobre o uso dessas ferramentas. O Dr. Marc Remacle – da Bélgica – faz cirurgias muito interessantes utilizando laser. De toda a forma, é só um instrumento. Quando está em boas mãos, é uma ótima ferramenta. Mas, para os profissionais da voz, é algo que eu não necessito.
Dr. Gustavo Korn: Ainda com relação aos cantores, em casos de pacientes que já apresentaram hemorragia de prega vocal pregressa, como o senhor aborda esse quadro? Em suas palestras foi falado sobre a cauterização. Como o senhor utiliza?
Dr. Ferran Ferran Vilà: Faço cauterização com eletrodo monopolar, utilizando a mínima intensidade. Primeiro faço um spot na prega vestibular, com a menor intensidade, apenas para provocar um branqueamento, sem perfurar a mucosa.
Dr. Gustavo Korn: Na cirurgia de laringe, o senhor sempre utiliza corticoide injetável e cola biológica (Tissucol)?
Dr. Ferran Ferran Vilà: Utilizo o corticoide (hidrocortisona) na prega vocal, como complemento da cirurgia, porém nunca uso em caso de papilomatose. Utilizo frequentemente a cola biológica, como Tissucol e Beriplast, e, como corticoide, a hidrocortisona. Também faço uso da cola de fibrina, sempre que faço dissecção intracordal.
Dr. Gustavo Korn: O que o refluxo pode causar aos cantores?
Dr. Ferran Ferran Vilà: Em cantores, o refluxo nem sempre é o responsável pelo problema na voz, mas pode ser um fator coadjuvante ou precipitador. Um cantor com formação em canto, geralmente, é um profissional que se cuida muito. O refluxo pode desencadear sintomas, mas não é a raiz profunda do problema.
Dr. Gustavo Korn: Quais seriam as causas de insucesso nas cirurgias de cantores?
Dr. Ferran Ferran Vilà: Uma má avaliação do paciente! Primeiro devemos ter um bom conhecimento do caso, para entender bem o problema do cantor. Eu sempre trabalho com um foniatra com formação em canto lírico. Alguns desses cantores podem ter alterações estruturais mínimas e algumas lesões. O que não podemos é olhar a lesão isoladamente. Temos que analisar o paciente como um todo. Avaliar o papel da lesão não é fácil. É preciso ter uma formação em canto ou trabalhar com alguém que tenha. Não podemos só pensar em deixar os bordos livres das pregas vocais retilíneas, por que poderemos mudar algum aspecto característico da voz do cantor – como uma voz mais sexy ou mais soprosa. E, então, as pessoas poderão deixar de reconhecer essas vozes e não comprar mais os CDs desses cantores. Também é muito importante estar atento às disfonias funcionais.
Dr. Gustavo Korn: Qual a orientação que o senhor dá para o jovem Otorrinolaringologista que quer começar a trabalhar com cantores?
Dr. Ferran Ferran Vilà: Que durante alguns anos ele deve trabalhar com outros pacientes, para ter sua curva de aprendizado, e, só então, trabalhar com cantores. É preciso entender porque e como eles devem ser operados. Em alguns casos, por exemplo, vale a pena ressecar um cisto, mas manter um edema, para preservar a característica da voz do cantor. Em uma atriz trágica e de personalidade potente, com um edema de Reinke, não realizar hipercorreção para que persista a sua sonoridade.